Processos Comunicação Digital, Critica da Técnica

Critica da Técnica e Modernidade

O artigo de José Carlos Vasconcelos e Sá, sobre o tema "A Crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan" parte da ideia de que a mediação constitui um sector bem definido entre sujeitos mediados pelas tecnologia, tendo como pressuposto de que mediação é linguagem.

O autor posiciona a importância do artigo no sentido em que a experiência da modernidade implica "Reconceptualizar" a lógica de mediação entre seres humanos, natureza e objectos produzidos, face à dissolução de laços religiosos que organizavam no mundo pré-moderno a existência social nas suas dimensões politicas, tecnologicas e estéticas.

Esta "reconceptualização" tem por base a procuda de novas formas de mediação ou procura de caminhos de uma orientação que permita estruturar visões do mundo na modernidade. No entanto, torna-se uma mediação problemática pois na modernidade utiliza-se a tecnologia e massificação da mensagem que traz da volta a hermeneutica para centralização do discurso, palavra e linguagem, trazendo de volta a força e importância da retória, e diria eu, aliada a uma velocidade da progação e transformação não controlada da própria mensagem.

No entanto, para o autor, a mediação pela linguagem obscureçe a questão da tecnologia, porque a tecnologia é vista como uma forma instrumental de optimização de processos comunicativos, enquanto veiculo da palavra, mas que pode fugir ao controlo e colocar novas formaas de mediação centrando-se na imagem e na maquinação do sujeito.

Pela importânica de estudos da tecnologia e massa media na obra de Heidegger (controlo humano da tecnologia) e McLuhan (correlação entre linguagem e tecnologia), o autor apresenta as conclusões fundamentais destes autores para posicionar a problemática da mediação no contexto da critica da técnica e da modernidade".

Da obra de Heidegger (1954), o autor retira o seguinte:
  • A metafisica levou ao esquecimento do ser e que a interrogação da tecnologia provem da crítica da modernidade em termos de essência da técnica;
  • A enfâse da crítica é a recusa de uma visão instrumental da tecnologia, isto é, enquanto meio neutro que os homem utilizam para transformar o mundo. Pelo contrário, a técnica é forma de verdade, provoca a natureza para libertar energia que pode retro-alimentar o processo de criação, e que a essência da tecnologia está neste processo de desocultamento da natureza, da verdade;
  • Criticar a técnica é inseparável da crítica da estética, sendo que existem 2 tipos de tecnologia base: antes da revolução industrial a tecnologia está envolvida com a natureza e extrai dela energia e objectos únicos; depois da revolução industrial a tecnologia utiliza um processo de extracção, transformação, acumulação, distribuição e retro-alimentação, gerando um mundo de objectos sem valor per si excepto pelo uso que se lhes possa dar;
  • A essência da tecnologia não é resultado da decisão humana, mas sim de um processo autonomo dele (Ge-Stell) enquanto estrutura cognitiva impessoal que provoca o mundo e incita os seres humanos de forma processual a procar o mundo tendo como fim o desocultamento da verdade;
  • Este modo de desocultamento via tecnologia moderna corre o risco de fazer desaparecer o próprio desocultamento, o que é uma catastrofe ontológica pois é no dominio da essência do ser e da tecnologia. Daí a forte ligação entre tecnologia e ser, pois a verdade acontece no próprio ser. Como tal a técnica não é algo neutro, não é o artesão que fabrica/produz mas sim é provado a produzir, e depende da unidade de causas e da coisa acabada, vista como seu destino;
  • Como tal, a técnica não pode ser apreendida, ou vista com mediação, sob um prisma de controlo e instrumentalidade.

Da obra de McLuhan (1968), o autor retira o seguinte:
  • O autor, na linha de Chesterton, Joyce, Pound e Elliot, começa por ter uma visão crítica em relação ao positivismo e cientismo da época, recusando a ideia de um progresso exlusivamente orientado pela tecnologia, pois como Chesterton afirma "por ser haver submetido à tirania das máquinas e confiando em excesso no racionalismo, o sujeito moderno exalta a cabeça, reprime o coração e perde por isso o hábito da perfeição". Por isso, o autor acredita que é necessário colocar a esperança na intuição para voltarmos a lembrar-nos do que realmente somos;
  • Mas mantém no entanto uma relação de entendimento âmbiguo da técnica, mistica, progresso e sentimento;
  • Após um estudo de Alan Poe, acaba por repudiar a RECUSA em favor de uma vigilância produtiva face à técnica, posicionando os seus estudos da crítica da técnica via análise dos MASS MEDIA e das suas relações com a mensagem que são vinculadas pelas tecnologia de comunicação;
  • O autor passa assim a acreditar que a cultura das massas pode destruir, mas também pode desenvolver. Nesta cultura das massas, as ideias e as imagens manifestam-se livres e implicando-se mututamente, sem conexões formais, comparável à estrutura da arte vanguardista;
  • Ao rever a cultura POP, afirma que os processos comunicacionais estariam estritamente ligados às tecnologias dominantes em cada época, e suporta-se em estudos de Harold Inis para encontrar as forças de transformação social associadas as tecnologia, em cada época (passagem do oral/escrito, surgimento da imprensa e Era Electrónica). De notar a ideia de que a escrita enquando mediação, fica vazia de sentidos e mecaniza, enquanto que a era da electrónica, recoloca o humano na dimensão da aldeia global, utilizando meios tecnológicos constituidos à sua imagem e semelhança;
  • Considera assim que a configuração cultural das sociedadess é determinada pela sabedoria e conhecimento individual, mas as origens e efeitos sociais desse conhecimento são determinadas pela especificidade fisica dos meios através dos quais são transmitidos esses conhecimentos, isto é, uma articulação entre comunicação, mediação, tecnologia e cultura. Os meios de comunicação afectam a experiência e através dela, toda a cultura, mais profundamente que as mensagens.
O autor conclui com a ideia de que o ser humano enquanto ser intermediário faz parte da tradição grega, mas que foi esquecida com o inicio da modernidade quando o sujeito passou a ser visto como um fim em si próprio. A crítica da técnica em McLuhan, ao contrário, implica que o conteúdo da mensagem é modelado pelo meio pelo qual é difundida, e Heidegger coloca a essência da tecnologia acima da própria tecnologia associada ao processo onde o homem não controla, mas faz parte.

Daqui se deduz que a mediação na modernidade é fundamento da cultura moderna,  não se confundido no entanto a mediação com o media, isto último visto aqui como tecnologia. Colocando esta dedução no mundo moderno actual, com o advento das redes sociais e mobilidade, com ubiquidade de acesso ao meio e interação em grupo, com meios publicos (ver interacção entre programas de imprensa com redes sociais) e entre individuos, torna estes textos intemporais.


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