Processos Comunicação Digital, Obra de Arte e Reprodutibibilidade

"A Obra de Arte na era da sua reprodutibilidade técnica", Walter Benjamin

Na questão da técnica e critica da técnica e modernidade, Heidegger questionava se a técnica moderna seria um meio para um fim, colocando a questão sobre se tudo depende de se manipular a técnica, enquanto meio e instrumento, mas numa lógica de "manusear com espirito a técnica".

O mesmo autor, já tinha como ideia que a idade moderna concebe o mundo como imagem, incluindo a forma como vemos o mundo e a história, sendo que a imagem permite criar uma compreensão do mundo ao representar a realidade, e como tal, o nosso modo de ver e compreender o mundo passa a não ser autêncico, mas criado por este processo. Este processo enquanto "ge-stell", ao ordenar o mundo, premite que a técnica consiga relevar a sua essência, pois apresenta-se como um modo de revelação da verdade (aletheia).

Esta forma de desocultamento do que está escondido na natureza (bestand), que Heidegger refere igualmente ao dizer que "aquilo que é estranho, mostra-se quando aquilo que é conhecido tornasse visivel". Mas neste caso, com o "ge-stell" e no contexto de composição moderna, onde a técnica permite seleccionar, extrair, transformar e expor, mas igualmente acumular e voltar a trabalhar a natureza assim acumulada, num desocultamento explorador.

Heidgger afirma inclusivé que antigamente as artes não provinham do artistico e não eram criadas para dar prazer estético, mas sempre existiu uma essência do belo e da poesia da arte, enquanto expressão da natureza exposta sob a forma de arte, no meu entender.

McLuhan por seu lado, após um cepticismo inicial face à utilização da técica, ao posicionar as épocas históricas com meios de comunicação específicos numa dimensão histórica, técnica e comunicacional, indica a era da electrónica como a era onde o ser humano é recolocado na dimensão da aldeia global, utilizando meios tecnológicos constituidos à sua imagem e semelhança.

Walter Benjamim, no seu artigo sobre a rea da reprotubilidade técnica, foca-se no cinema, ou seja na captura e exposição de imagem, numa perspectiva de questionamento sobre em que medida a reprodutibilidade, mesmo a mais pefeita, não conseguir capturar o "aqui e agora" da obra de arte.
O artigo explora o lado fisico e histórico da obra de arte de acordo com o tempo em que foi feito e que permite capturar uma aura ou singularidade, associada à sua autenticidade. Mas igualmente a relação de propriedade associada ao tempo e protecção da própria obra de arte e uso, muitas vezes para fins mágicos ou de culto. Em conjunto, para Walter Benjamim, consegue-se distinguir uma característica de não reprodutibilidade da obra de arte em absoluto, pois mesmo que como resultado da evolução da técnica se possa reproduzir a obra e dar outra dimensão ou perspectiva da mesma, o "aqui e agora" é desvalorizado, sendo isso o aspecto importante da obra de arte.

Walter Benjamim, refere a evolução de capacidade de repodução da obra de arte desde a fundição e cunhagem dos Gregos, passando pela reprodução da arte gráfica e a própria escrita, culminando com a fotografia e cinema/video no século XX. Neste caso, utiliza a ideia de que a reprodução liberta o objecto reproduzido da sua tradição. E focando no cinema, coloca a hipotese de que o filme é um dos agentes mais poderosos de massificação e reprodução, liquidando o valor da tradição na herança cultural. Refere que a reprodutividade, aplicada ao cinema, fracassa a autenticidade, modificando-se
também a função social da arte que passa de ritual a politica, como sendo o instrumento da massificação.

Mais adiante no seu artigo, Walter Benjamin refere que a recepção da arte está associado ao valor do culto e ao valor de exposição da obra de arte, sendo que nas obras cinematográficas a reprodutibilidade técnica não é condição imposta do exterior para divulgação em massa, ao contratário das obras literárias e pintura. Neste caso do cinema, tem o seu fundamento na própria técnica de reprodução, pois possibilita não só a sua divulgação em massa como também a impõe.
Comparando com o teatro, Walter Benjamim refere que o cinema de certa forma alia a técnica ao armazenamento, o que eu entendo como o conceito de desocultamento explorador referido por Heidegger. Para Walter Benjamim, o cinema retira a aura ao actor ao colocar o actor a identificar-se perante uma máquina, sendo que o actor do teatro identifica-se com o papel, enquanto que o de cinema limita-se a ser um acessório inserido num local.

Sobre a recepção, ou distribuição no conceito de Heidegger, Walter Benjamin refere Huxley que indicada que os progressos técnicos conduziram à vulgaridade, sendo que a reprodutibilidade técnica e a rotativa possibilitaram uma policópia imprevisivel de escritores de imagens. Mais à frente no seu artigo, Walter Benjamim refer que a recepção na diversão é cada vez mais perceptivel nos dominios das artes, e é sintoma do consumismo, sendo que o no caso do cinema rejeita-se mesmo o valor de culto e leva-se o publico a perfil tipico de examinador distraido.

Na essência do artigo, Walter Benjamim considera que enquanto nos primórdios as obras de arte devido à sua origem ligada ao culto eram um instrumento de magia levada a obra de arte, actualmente o peso está na exposição, sendo que quer na fotografia, quer no cinema, só com imagens de rosto humano se mantém esta visão de culto. Se a fotografia já tinha levantado dificuldades na relação
entre estética tradicional, no caso do cinema, o problema é ainda maior pois a linguagem das imagens ainda não atingiu a sua maturidade porque os nossos olhos ainda não evoluiram o suficiente e não existe ainda suficiente respeito pelo culto e por aquilo que as obras de arte cinematográficas exprimem.

No meu entendimento, utilizando as referências de de Heidegger relativamente à arte ser uma exposição da natureza por uma composição e técnica de desocultamento explorador, aliado ao conceito de McLuhan de que a era da electrónica é onde o ser humano é recolocado na dimensão da aldeia global, utilizando meios tecnológicos constituidos à sua imagem e semelhança, permite-me discordar da visão de Walter Benjamim. as técnicas de imagem, e em particular as de imagem em movimento, permitem de forma poética capturar o verdadeiro culto e magia da natureza e selecionar, capturar, transformar, armazenar e distribuir sobre a forma de arte, de forma como nunca antes se conseguiu. Permite inclusivé reposicionar as imagens à medida de cada receptor, na perspectiva associada à sua visão e cultura, ajustando a obra de arte ao modelo do receptor, no limite.

No caso da imagem, o texto de Heidegger que via a a técnica moderna seria um meio para um fim, colocando a questão sobre se tudo depende de se manipular a técnica, enquanto meio e instrumento, mas numa lógica de "manusear com espirito a técnica", não poderia ser mais actual, visto que a técnica moderna é um meio e instrumento para o fim, sendo a própria técnica um meio de armazenamento e manipulação da natureza assim capturada, colocando a ideia de que realidade ou natureza representada, num nível de expoente máximo de pensamento sobre a essência da arte.

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