Segundo o autor, a expressão “novas tecnologias” está ligada
à imagem informática para fabricação de objectos visuais. No entanto, antes
desta imagem fabricada, já se utilizava saber e tecnologia para criar a imagem,
apesar de ser mais focada na produção e menos na recepção, sendo que como tal,
o autor foca a evolução da imagem desde a pintura, passando pela fotografia,
vídeo e cinema, para analisar sobre três eixos transversais as três
problemáticas que considera centrais na estética da representação, e qual o
posicionamento das diferentes máquinas de imagens nesta problemática.
Considerando o artigo “Máquina e Imaginário” (Machado,
Arlindo, 1993), este tipo de máquinas capazes de capturar a representação e
tornar sensível a duração, dar forma às impressões do tempo e representar a
velocidade, são considerar como máquinas Semióticas. Neste caso, Philipe
Dubois, não utiliza este conceito, mas recorre a J.P. Vernant e ao conceito
Grego Techné, igualmente utilizado na questão da técnica por Heidegger, para
referir que a Techné refere um instrumento ao qual o homem recorre para lutar
contra a natureza (physis segundo o autor e não tanto a Bestand) e pode assim
com este instrumento dominar uma força (dynamis) que lhe escaparia sem tal
instrumento, e que uma vez controlada e canalizada para os seus fins, lhe
permite ultrapassar certos limites.
O autor refere ainda que a Techné é assim uma arte do fazer
humano, e que ao longo da história, todas as máquinas de imagens, pressupõe um
dispositivo que institui uma esfera tecnológica necessária à constituição da
imagem. Esta arte de instrumentos (vistos pelo autor como regras,
procedimentos, materiais, construções e peças) e um funcionamento (visto pelo
autor como um processo, dinâmica, acção, agenciamento e jogo).
Tendo por base este princípio conceptual sobre a tecnologia
e em particular sobre as máquinas de imagens, o autor analisar os três eixos
transversais, da seguinte forma, sendo que para cada uma analisar a evolução
entre pintura, fotografia, cinema, televisão/vídeo e imagem informática:
·
Questão Maquinismo-Humanismo: A evolução entre
máquinas de imagens “que organizam o olhar”, facilitam a apreensão do real mas
nunca chegam a desenhar a imagem sobre um suporte, como é o caso das
construções ópticas do Renascimento, dependem do autor para produzir a imagem
como algo individual e subjectivo. No entanto, com a fotografia passa-se a uma
objectividade e impressão em suporte, sem intervenção subjectiva do homem e
criando um primeiro nível de realismo directo. Com o Cinema, a máquina regista
em rolo não só o momento, como o tempo e movimento, e implica uma visualização
por receptor próprio num ambiente próprio, mas introduz uma componente de
máquina de pensamento e geradora de afectos, criando um novo imaginário no
receptor. Com a televisão/vídeo, passa-se para uma dimensão de captura e
projecção ao vivo, sendo a máquina um intermediário do real e objectivo, e o
receptor, sem aura do artista. Com a imagem informática, entra-se no domínio da
imagem fabricada, sem necessidade de captura e reprodução, mas somente modelos
e algoritmos de representação e geração da imagem, mas introduz-se uma nova
máquina, a interface homem-máquina, para acesso e manipulação da imagem.
· Questão da Semelhança-Dessemelhança: Qual o
realismo nas imagens? Para o autor não é um caso de progressão de realismo, mas
sim uma dialéctica em cada período/máquina de imagem, pois a questão não é
tecnológica mas sim estética. No caso da pintura, o entendimento é que o
realismo subjectivo e interpretativo da aura do autor, era a base da dimensão
artística da própria obra. Com a Fotografia, entra-se na dimensão da verdade
das formas e verdade das imagens, sem intervenção e interpretação do artista,
apesar de ser uma imagem estática. Com o Cinema, introduz-se a noção de
movimento e tempo no realismo, sendo a vida em si mesma. Com a Televisão/Video,
passamos à dimensão da vida ao vivo, em tempo real. No entanto, com a imagem
informática, a imagem é produzida, e a máquina deixa de reproduzir para gerar o
seu próprio real, sendo que a questão da semelhança deixa de fazer sentido.
Como tal, o autor recorre à tese de “Dupla Hélice” de Raymond Bellour para
referir que quanto mais um sistema for capaz de imitar o real, mais será esse
sistema capaz de desconstrui-lo e suscitar formas de minar o potencial de
mimetismo, sendo como tal que toda a representação tem uma dose de semelhança e
outras de dessemelhança, sendo a uma questão estética e não tecnológica;
- Questão da Materialidade-Imaterialidade: Neste caso, temos igualmente, segundo o autor, um caso de não progressão de desmaterialização ao longo da evolução das máquinas de imagem. No caso da pintura, existe uma materialidade associada às características materiais da Tela onde a imagem é produzida. No caso da Fotografia, o papel de impressão é menos táctil em termos da imagem representada, sendo antes um achatamento da matéria-imagem. Com o Cinema, perde-se o material, pois a imagem é reproduzida num suporte que não está ao alcance do receptor de tocar ou manter, sendo a imagem um simples reflexo numa tela. Com a Televisão/Video perde-se inclusive o conceito de rolo de filme para projecção, sendo a imagem passa a ser um processo associado a um impulso eléctrico, sendo que a imagem passa a ser utilizada só para ser transmitida. Com a imagem informática, atinge-se um extremo da desmaterialização, sendo que a imagem passa a ser virtual, sendo o produto de um cálculo, mas introduz algo que nos permite tocar a imagem de forma nunca disponível noutras máquinas anteriores, que é a interface homem-máquina. E no meu entender, a imagem passa a poder ser retida em suportes mais passíveis de serem mantidos, apesar da imagem ser imaterial. No entanto, com a imagem informática, segundo o autor, a “imagem não só perdeu o corpo, como também o próprio real inteiro parece ter.se volatilizado, dissolvido, descorporizado numa total abstracção sensorial”
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