Processos Comunicação Digital, Máquinas de Imagens

Máquinas de imagens: Uma Questão de linha geral, Dubois, Philipe, Cinema, Video. Godard. São Paulo. 2004

Segundo o autor, a expressão “novas tecnologias” está ligada à imagem informática para fabricação de objectos visuais. No entanto, antes desta imagem fabricada, já se utilizava saber e tecnologia para criar a imagem, apesar de ser mais focada na produção e menos na recepção, sendo que como tal, o autor foca a evolução da imagem desde a pintura, passando pela fotografia, vídeo e cinema, para analisar sobre três eixos transversais as três problemáticas que considera centrais na estética da representação, e qual o posicionamento das diferentes máquinas de imagens nesta problemática.
Considerando o artigo “Máquina e Imaginário” (Machado, Arlindo, 1993), este tipo de máquinas capazes de capturar a representação e tornar sensível a duração, dar forma às impressões do tempo e representar a velocidade, são considerar como máquinas Semióticas. Neste caso, Philipe Dubois, não utiliza este conceito, mas recorre a J.P. Vernant e ao conceito Grego Techné, igualmente utilizado na questão da técnica por Heidegger, para referir que a Techné refere um instrumento ao qual o homem recorre para lutar contra a natureza (physis segundo o autor e não tanto a Bestand) e pode assim com este instrumento dominar uma força (dynamis) que lhe escaparia sem tal instrumento, e que uma vez controlada e canalizada para os seus fins, lhe permite ultrapassar certos limites.

O autor refere ainda que a Techné é assim uma arte do fazer humano, e que ao longo da história, todas as máquinas de imagens, pressupõe um dispositivo que institui uma esfera tecnológica necessária à constituição da imagem. Esta arte de instrumentos (vistos pelo autor como regras, procedimentos, materiais, construções e peças) e um funcionamento (visto pelo autor como um processo, dinâmica, acção, agenciamento e jogo).

Tendo por base este princípio conceptual sobre a tecnologia e em particular sobre as máquinas de imagens, o autor analisar os três eixos transversais, da seguinte forma, sendo que para cada uma analisar a evolução entre pintura, fotografia, cinema, televisão/vídeo e imagem informática:

·        Questão Maquinismo-Humanismo: A evolução entre máquinas de imagens “que organizam o olhar”, facilitam a apreensão do real mas nunca chegam a desenhar a imagem sobre um suporte, como é o caso das construções ópticas do Renascimento, dependem do autor para produzir a imagem como algo individual e subjectivo. No entanto, com a fotografia passa-se a uma objectividade e impressão em suporte, sem intervenção subjectiva do homem e criando um primeiro nível de realismo directo. Com o Cinema, a máquina regista em rolo não só o momento, como o tempo e movimento, e implica uma visualização por receptor próprio num ambiente próprio, mas introduz uma componente de máquina de pensamento e geradora de afectos, criando um novo imaginário no receptor. Com a televisão/vídeo, passa-se para uma dimensão de captura e projecção ao vivo, sendo a máquina um intermediário do real e objectivo, e o receptor, sem aura do artista. Com a imagem informática, entra-se no domínio da imagem fabricada, sem necessidade de captura e reprodução, mas somente modelos e algoritmos de representação e geração da imagem, mas introduz-se uma nova máquina, a interface homem-máquina, para acesso e manipulação da imagem.

·   Questão da Semelhança-Dessemelhança: Qual o realismo nas imagens? Para o autor não é um caso de progressão de realismo, mas sim uma dialéctica em cada período/máquina de imagem, pois a questão não é tecnológica mas sim estética. No caso da pintura, o entendimento é que o realismo subjectivo e interpretativo da aura do autor, era a base da dimensão artística da própria obra. Com a Fotografia, entra-se na dimensão da verdade das formas e verdade das imagens, sem intervenção e interpretação do artista, apesar de ser uma imagem estática. Com o Cinema, introduz-se a noção de movimento e tempo no realismo, sendo a vida em si mesma. Com a Televisão/Video, passamos à dimensão da vida ao vivo, em tempo real. No entanto, com a imagem informática, a imagem é produzida, e a máquina deixa de reproduzir para gerar o seu próprio real, sendo que a questão da semelhança deixa de fazer sentido. Como tal, o autor recorre à tese de “Dupla Hélice” de Raymond Bellour para referir que quanto mais um sistema for capaz de imitar o real, mais será esse sistema capaz de desconstrui-lo e suscitar formas de minar o potencial de mimetismo, sendo como tal que toda a representação tem uma dose de semelhança e outras de dessemelhança, sendo a uma questão estética e não tecnológica;
  • Questão da Materialidade-Imaterialidade: Neste caso, temos igualmente, segundo o autor, um caso de não progressão de desmaterialização ao longo da evolução das máquinas de imagem. No caso da pintura, existe uma materialidade associada às características materiais da Tela onde a imagem é produzida. No caso da Fotografia, o papel de impressão é menos táctil em termos da imagem representada, sendo antes um achatamento da matéria-imagem. Com o Cinema, perde-se o material, pois a imagem é reproduzida num suporte que não está ao alcance do receptor de tocar ou manter, sendo a imagem um simples reflexo numa tela. Com a Televisão/Video perde-se inclusive o conceito de rolo de filme para projecção, sendo a imagem passa a ser um processo associado a um impulso eléctrico, sendo que a imagem passa a ser utilizada só para ser transmitida. Com a imagem informática, atinge-se um extremo da desmaterialização, sendo que a imagem passa a ser virtual, sendo o produto de um cálculo, mas introduz algo que nos permite tocar a imagem de forma nunca disponível noutras máquinas anteriores, que é a interface homem-máquina. E no meu entender, a imagem passa a poder ser retida em suportes mais passíveis de serem mantidos, apesar da imagem ser imaterial. No entanto, com a imagem informática, segundo o autor, a “imagem não só perdeu o corpo, como também o próprio real inteiro parece ter.se volatilizado, dissolvido, descorporizado numa total abstracção sensorial”

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